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Bulimia nervosa na adolescência

Termo que vem do grego “bous” – boi e “limos” – fome, está dentre os transtornos alimentares de maior incidência na contemporaneidade. É caracterizada por episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios como indução de vômitos, uso de laxantes, diuréticos, dietas extremamente restritivas como jejuns e exerccicios físicos excessivos.


Ela é mais comum na adolescência ou no inicio da idade adulta e sua prevalência é maior entre o sexo feminino.



Uma importante característica da bulimia nervosa é a alteração na estrutura alimentar: horários das refeições, tipos de alimentos consumidos, regularidade das refeições.

As atitudes alimentares (relação com a comida, crenças, pensamentos e sentimentos que a envolvem) também estão alteradas, assim como o consumo (ingestão dos nutrientes e calorias).

Todas essas alterações influenciam o ciclo de restrição, compulsão e prgação (caracterísitico da bulimia nervosa) fazendo do padrão alimentar algo caótico e gerando bastante sofrimento.


A adolescência contemporânea é marcada pelo uso e forte influência das redes sociais , norteando as crenças em relação a determinados alimentos (atualmente o consumo de carboidratos é visto como vilão do corpo magro, jejuns são incentivados e existe um enorme terrorismo nutricional ditando as regras). Informação distorcida acessível, sem critérios, associadas a uma enorme valorização de corpos magros e “perfeitos”, trabalhados nos filtros, truques de poses e procedimentos estéticos incentivando a insatisfação corporal estimulam comportamentos disfuncionais e patológicos com a comida.


Sofrimento


Existe bastante sofrimento nesses paciente, que alternam entre restrições calóricas severas e hiperfagias (ingestão muito grande de alimentos em um curto período de tempo, algumas vezes programadas). A falta de estrutura alimentar, as crenças e pensamentos negativos em relação a comida geram uma deconexão da pessoa com sua fome e sua saciedade.

Questões emocionais não resolvidas ( raiva, ansiedade, tristeza, frustrações, insegurança) e uma cobrança excessiva por um corpo magro também são gatilhos para as compulsões alimentares, somadas as consequencias da falta de estrutura alimentar.

Quais são os critérios diagnósticos para bulimia nervosa?


De acordo com o DSM-5, a pessoa precisa se enquadrar nos seguintes critérios para ter o seu diagnóstico

1- Episódios recorrentes de compulsão alimentar, que são caracterizados pelo seguinte

a) ingestão em um período de tempo determinado de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que o que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstancias semelhantes

b) sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio


2- comportamentos compensatórios imaprorpiados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos auto induzidos ( é o mais frequente); uso indevidos de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em excesso


3- A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, uma vez por semana durante três meses.


4- A auto avaliação é indevidamente influenciada pela forma e peso corporais

A pessoa com BN atribui valor excessivo ao peso e à forma corporal. Há o desejo de enagrecer, medo excessivo de engordar e uma preocupação exagerada com o peso. Isso reflete na autoestima, que geralmente é bastante negativa.


5- A perturbação não ocorre exclusivamente durante de anorexia nervosa.


Gravidade


Quanto a gravidade, ela pode ser :

  • Leve: 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana;

  • Moderada: 4 a 7 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana

  • Grave: 8 a 13 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana;

  • Extrema: 14 ou mais episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana;


Comorbidades


Frequentemente os pacientes de bulimia nervosa apresentam transtornos do humor, uso de subtsâncias psicoativas, transtornos ansiosos e de personalidade.

Estima-se que cerca de 50 a 65% dos pacientes sofram com depressão ao longo da vida.


Complicações clínicas


Esofagite, ulceras esofágicas, desidratação, taquicardia, hipovolemia, distúrbios eletrolíticos, constipação severa são algumas das complicações comuns entre esses pacientes, devido aos episódios compensatórios.


Uma visão psicanalítica


Impulsividade, avidez, conduta aditiva que tende a repetição, mecanismo de anulação, falta de elaboração psíquica, autoestima excessivamente dependente de aprovação captada no “olhar” do outro, baixa tolerância para suportar a frustração, incapacidade de postergar a satisfação das necessidades, buscando sensações cada vez mais excitantes são características que podemos ver em indivíduos com BN.

Na bulimia há uma falha no mecanismo de repressão . Os ataques de hiperfagia, apropriação urgente, voraz e transgressora do alimento e depois o vômito provocado estão conectados à perda de controle


Outra questão apontada é a relação fusional com a mãe. A intensidade e a avidez dessa relação denunciam a fragilidade dos limites e a utilização de identificação introjetiva. O recurso à prática bulímica desvia e perverte o campo do desejo, transformando-o em necessidade.


Há diversas teorias a respeito do desenvolvimento da BN e cito aqui algumas:

Lynn Whisnant Reise compara o episódio bulímico com a experencia do bebe na amamentação:


1- Inquieto e suplicante

2- Comendo e sentindo-se repleto

3- Náusea e vomito

4- Efeito purgativo e movimento intestinal

5- Estados alterados de consciência: alerta seguido de entorpecimento.


Já Harvey J. Schawartz aponta para falha no processo de separação e individuação da mãe, considerada uma extensão do seu corpo, levando à uma incapacidade de reconhecer as fronteiras entre estímulos internos e externos.


Tratamento


Certamente o tratamento é multiprofissional e deve incluir médico, nutricionista, psicanalista (ou psicólogo) e pode incluir fisioterapeuta.

O nutricionista irá trabalhar primeiramente com a estrutura alimentar dos pacientes, organizando as refeições, esclarescendo a respeito dos mitos alimentares e educando nutricionalmente . No âmbito comportamental deve ser trabalhada a percepção de fome e saciedade, a diferenciação dos diferentes tipos de fome e a consciência alimentar ( trabalhar investigando os pensamentos, sentimentos, sensações que envolvem o comer).

Muitas vezes o uso de medicação é recomendado , especialmente pelo fato de muitos pacientes com BN terem outras doenças psiquiátricas como comorbidade.

A família também deve buscar ajuda para entender a doença e aprender a lidar com a paciente a fim de ajudar na recuperação e também na própria saúde mental dos cuidadores.





Soraya Costa

Nutricionista e psicanalista

CRN3:20926



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