A pandemia levantou muitas questões e uma delas foi o assunto transtornos alimentares. O número de casos no consultório vem aumentando progressivamente. Muitas pessoas relatando principalmente casos de compulsão alimentar. Mas primeiro vamos definir o que é uma compulsão alimentar?
Muitas pessoas relatam ter mas na maioria das vezes são episódios de descontrole alimentar. Usando os critérios diagnósticos do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5, o transtorno de compulsão alimentar precisa dos seguintes pontos:
1- Episódios recorrentes de consumo alimentar compulsivo, que seguem as características:
a- Ingestão de grande quantidade de alimentos em um curto intervalo de tempo (comparados com outas pessoas em circustâncias semelhantes, durante o mesmo período de tempo
b- Sensação de perda de controle sobre a alimentação durante os episódios
2- Episódios de CA possuem os aspectos de:
a- Comer mais rápido que o normal
b- Comer até se sentir desconfortavelmente cheio
c- Consumir grandes quantidades de alimento, mesmo sem fome
d- Comer sozinho por vergonha
e- Sentir-se repugnante, deprimido ou culpado após comer a grande quantidade de alimento
3- O comportamento é fonte de angústia e sofrimento para a pessoa
4- Ocorrem em média pelo menos uma vez por semana durante 3 meses
5- Não há uso de métodos compensatórios.
Essa descrição é para o transtorno de compulsão alimentar, mas descreve também o que caracterizam os episódios.
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Pandemia A incidencia de TCA aumentou durante esse período, provavelmente causada pelo gatilho do estresse presene entre os adolescentes pela falta de convivio social- tão importante nessa fase da vida, aulas virtuais e bastante energia acumulada. A comida pode ser um refugio conhecido por todos nós e isso é comum e até normal, mas no caso de episódios de CA, torna-se patológico e precisa de intervenção profissional.
Mas não o foram apenas os adolescentes que passaram a sofrer com esse descontrole. Apesar de haver maior incidência na puberdade, os adultos também foram afetados. Os episódios de descontrole alimentar e as compulsões podem ser desencadeados por falhas na alimentação, mentalidade de dieta (quando a pessoa tem pensamentos dicotômicos sobre alimentos, classificando-os como bons ou ruins), e quando há uma tentativa de fazer dieta restritiva. Nem toda dieta ou a mentalidade de dieta leva à um transtorno alimentar, mas eles geralmente comecam a partir disso. Fator ansiedade O estresse e a ansiedade são ao necessários para a nossa sobrevivência revivencia, mas precisamos estar atentos ao fato de que eles podem se tornar patológicos. Quando a ansiedade começa a tomar uma proporção grande e prejudicar funções sociais ( evitação social, fobias), cognitivas (falha na memória, falta de concentração ), metabólicas ( passa a afetar o sono, causando cansaço excessivo), comportamento alimentar, uso abusivo de substâncias, é hora de buscar ajuda.
Em um TA ( transtorno alimentar) no caso aqui, o TCA (transtorno de compulsão alimentar) , algumas dessas alterações podem estar associadas e o tratamento precisa ser integrativo, ou seja, a pessoa precisa ser olhada como um todo. Em alguns casos, trabalhar a mentalidade de dieta com uma nutricionista especializada em TA e acompanhamento psicologico ja são o suficiente para a remissão do quadro, mas em casos mais graves, o uso de medicação é necessario. O vazio da pandemia Não o tem como falar de compulsões (ou adição, como também é vista) sem falar de vazios internos e a pandemia deixou muitos de nós nesse lugar de isolamento e solidão , quando tivemos que acessar esses buracos.
Não haviam distrações sociais ou atividade física : fomos obrigados a encarar o que estava dentro de nós s e a lidar com a solidão . A comida foi muito usada para lidar com o tédio e como um amortecedor dessas dores.
Quem pode desenvolver TCA
TCA é o TA mais comum na população com maior incidência no sexo feminino: para cada pessoa que sofre com TCA, 6 são do sexo feminino.
Entre pessoas obesas, a chance de ocorrer TCA é diretamente ligada ao grau de obesidade .Entre obesos investigados na população geral, 8% preenchem os critérios para TCA. Entre obesos grau 2 as taxas chegam a 30%. Nos obesos grau 3, em busca de avaliação pré-operatória para cirurgia bariátrica, estima-se que mais de 40% sofram com TCA.
Vicio em comer, não vicio em comida
O vicio alimentar é a incapacidade de interromper o comportamento, que foge do controle. É comum pacientes com TCA se compararem com alcoólotras, por exemplo. Inclusive, existe até um grupo de apoio que segue os mesmos preceitos dos alcoólicos anônimos para o tratamento.
Isso tudo tem embasamento científico . Estudos que investigam os circuitos de prazer e de recompensa são ativados de modo semelhante no TCA e em diversas dependências comportamentais e químicas . Para esses pacientes não é uma escolha comer dessa maneira.
Como começa a compulsão alimentar
Os sintomas geralmente comecam a aparecer na puberdade e a maioria tem histórico de oscilação de peso, com tentativas frustradas de dietas seguidas de episódios de voracidade e descontrole. Algumas vezes a pessoa pode se sentir alheia, entorpecida e sem consciência do que está fazendo, como se fosse um expectador dos episódios e algumas vezes não se lembram do que foi ingerido (como nos casos do comer noturno- quando a pessoa acorda de madrugada para comer). Esses episódios podem chegar a até 14 mil calorias e o consumo de alimentos varia entre doces, salgados e até mesmo alimentos crus, cascas, sementes e alimentos que já estão no lixo, em casos mais graves. Após a crise, a pessoa entra em um estado de auto degradação, culpa, vergonha, raiva e nojo do próprio corpo. Sente-se impotente, com medo e insegura. Está associado à depressão , isolamento social, inatividade física- fatores que agravam ainda mais o quadro. Como você pode perceber, o TCA é diferente de episódios isolados de CA, o que por sua vez também é diferente de descontrole alimentar. Atualmente devido à moralidade alimentar, qualquer barra de chocolate comida a mais já é caracterizada como um episódio de CA. Mas a questão é muito mais profunda, envolve estados mentais, psíquicos enfermos e a pessoa precisa ser acolhida. Acolhimento e a condução ao tratamento são fundamentais para a remissão pois não é algo que o paciente conseguirá fazer sozinho-não é sobre força de vontade.
O estigma e preconceito pioram o quadro e a auto estima do paciente, portanto enfatizo novamente a importância do acolhimento e da empatia dos familiares, cuidadores e profissionais de saúde. O tratamento nutricional na compulsão alimentar Após o acolhimento já mencionado, o tratamento não deve ser baseado em restrições . O paciente deve estar fazendo tratamento psicológico para melhores resultados e a nutricionista trabalhará questões ligadas à organização e estrutura da alimentação , associada à abordagem comportamental.
Ao falarmos de comida, falamos sobre a vida, como nos sentimos em relação a ela, como agimos. Portanto, ampliar o olhar focando na melhora do sono, do funcionamento do intestino e digestão , prática de atividade fisica, lazer e estilo de vida de maneira geral é necessário.
Soraya Costa
Nutricionista
CRN 20926
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