Caso não tenha, é isso mesmo que você está pensando, a nutricionista que propõe isso, não proíbe nenhum alimento, deixando a pessoa livre para comer de acordo com sua fome ( seja ela física, emocional, social) e sua saciedade (quem determina a quantidade é o comedor).
Assustador para alguns, uma festa para outros. E a questão é que, idealmente, não deve ser nem um nem outro. Ou ao menos o medo e a alegria devem ser lapidados aqui para que se atinja um equilíbrio.
É comum vermos intervenções dietéticas restritivas (déficit calórico) com o intuito de atingir a perda de peso corporal. Mas, a prática crônica de dieta restritiva também pode corromper a regulação inata do corpo de reconhecer os sinais de fome e saciedade e pode dificultar a construção de um relacionamento saudável com os alimentos que também é necessário manter um peso saudável , evitar o efeito sanfona e prevenir transtornos alimentares e contribuir com a saúde mental.
Outra maneira de atingir um peso saudável é resgatando a regulação inata do corpo, através da abordagem do Comer Intuitivo, proposta por duas nutricionistas americanas.
Tem como base três pilares, que são:
Rejeitar a mentalidade de dieta (não rotular os alimentos como “bons” ou “ruins”).
Comer baseado os sinais de fome e saciedade, na maior parte das vezes (observando e reagindo à essas sensações e evitando conscientemente comer por motivos emocionais).
Ter permissão incondicional para comer(promovendo autonomia alimentar e liberdade nas escolhas).
Esse sistema visa promover uma relação positiva entre a comida e o corpo, estimulando a escolha de alimentos que são bons para corpo e ao mesmo tempo saborosos e satisfatórios promove a aceitação e o respeito a todos formas e tamanhos do corpo e incentiva a prática de atividade física.
Se você já fez muitas dietas na vida, viveu ou vive o efeito sanfona, provavelmente esses três pilares te causam muito desconforto, pois vocês você vem se alimentando baseada em regras. Você desenvolveu uma mentalidade de “certo” e “errado” categorizando os alimentos entre vilões e mocinhos, criando medo da comida, ignorando sua fome e saciedade (e quanto mais tempo você passa fazendo isso, mas você desconectada de sua sabedoria interna você fica).
Assim, pode ser mesmo um desafio para você voltar a ouvir o corpo e essa permissão incondicional para comer deve ser um caminho construído de preferência com o acompanhamento de um profissional. As resistências que virão e devem ser observadas, acolhidas e discutidas para que um novo caminho seja construído, o da liberdade. Poderão emergir medos e memórias traumáticas que também precisam de acolhimento e compaixão.
Por outro lado, pode haver um encantamento com a liberdade e é sobre que quero falar mais.
Você pode adotar o comportamento do excesso alimentar, uma vez que não tem mais contato com seus sinais internos de saciedade e provavelmente também por ter ficado muito tempo sem comer alguns alimentos que você gosta muito. Não entre em pânico. A permissão incondicional para comer não é uma orientação solta, baseada apenas em uma liberdade (limitada). Ela faz parte de um conjunto de orientações que formam esse olhar, essa abordagem, essa maneira de se alimentar.
Talvez você já viva esses dois lados há algum tempo: permitir-se demais , seguidos de não se permitir nada. O 8 ou 80. E se esse é o seu caso, você já sabe que construiu uma má relação com a comida e com seu corpo. E essa relação ruim pode não te deixar feliz nem quando você consegue atingir o seu objetivo, pois uma boa relação com o corpo muitas vezes não depende da forma física que você tem.
Podemos chamar de permissividade, a permissão exagerada. O fato de ser difícil dizer não para os impulsos e para as ofertas de comida principalmente se ela vier de pessoas queridas e familiares. Isso demanda uma reforma íntima. Aliás, tanto a não permissão (vamos chamar de controle?) quanto a permissividade excessiva exigem uma reforma íntima
A reforma íntima
Se conhecer sobre nutrientes e calorias não te levou a um peso saudável e a um bom relacionamento com a comida e com seu corpo, é sobre ela que precisamos falar. Isso se alcança mudando atitudes, trabalhando conceitos nocivos e nada disso está separado de quem você é. Nossa relação com a comida e com o corpo é um microcosmo de um macro, que somos nós mesmas: nosso Eu, a maneira como nos relacionamos com as pessoas, com o trabalho, lazer, dinheiro, família, sexo, vida. Por exemplo, uma pessoa que fica sem graça de dizer não a uma oferta de comida, que não quer magoar o outro, provavelmente tem esse comportamento em outros âmbitos da vida também: ela não consegue dizer não, precisa sempre agradar. E percebe que isso precisa ser investigado?
Outro exemplo, mais extremo, são as pessoas com comportamentos alimentares restritivos e controlados, como nos transtornos alimentares. Geralmente essas pessoas são muito perfeccionistas na vida, exigem demais de si mesmas, são boas alunas, boas funcionárias e se esforçam muito para serem boas em tudo. Isso parece ser bom pois infelizmente é aplaudido pela sociedade, mas causa muito sofrimento na pessoa. Esses padrões também precisam ser investigados, acolhidos e trabalhados com compaixão
Aos vivermos seguindo regras impostas ou autoimpostas nos desconectamos de nós mesmas e também desaprendemos a nos alimentar de forma harmoniosa.
Se você tem problemas de relação com a comida, considere fazer um trabalho investigativo. Tenho certeza que notará progresso.
Soraya Costa
Nutricionista
CRN 3: 20926
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